Uma Semana Santa sem a presença dos fiéis nas missas e procissões, no entanto, conectados com a Igreja pelas redes sociais e plataformas de streaming. Este foi o panorama dos dias que antecederam a Páscoa para a comunidade católica de Piracicaba, impossibilitada de acompanhar os ritos eucarísticos deste importante momento da fé cristã devido à quarentena imposta contra a disseminação da Covid-19 (novo coronavírus).
O padre Anselmo Cardoso Martiniano, pároco da igreja Bom Jesus, em Rio das Pedras (que pertence à Diocese de Piracicaba), afirma que a humanidade vive “um momento histórico” e, o período da Páscoa, é o “centro da liturgia, a celebração dos mistérios da fé” para os cristãos. “O restante do ano é centralizado neste evento”, destaca o religioso.
A Igreja, ressalta Martiniano, encara a pandemia com serenidade. “E sem angústia. Enfrentamos este momento como uma lição, mostra que o homem não tem domínio do tempo”, contextualiza o padre.
No último fim de semana, no Domingo de Ramos, Martiniano comenta a peculiaridade de uma missa tão simbólica, mas sem os fiéis. “Celebrei a missa apenas com as pessoas que auxiliam no altar, sem ninguém nos bancos. Entretanto, algumas pessoas apareceram após a celebração para buscar ramos. Percebi que estavam emotivos, alguns choraram. Queriam mesmo estar presente na liturgia, ao mesmo tempo que entendem a gravidade do vírus e, por isso, ficam em suas casas”.
Outro rito da Semana Santa se iniciou ontem, o Tríduo Pascal. É o conjunto de três dias celebrados no Cristianismo, composto pela Quinta-feira Santa, Sexta-feira Santa e Sábado Santo, em memória da Paixão, morte e ressurreição de Jesus. “Os fiéis, mesmo longe da igreja, acompanharão pela internet – as celebrações serão transmitidas ao vivo. Só não teve (ontem) o lava pés”, comenta o padre.
A orientação é que os católicos montem um altar em casa, como se fosse a capela ou igreja. “Para se sentirem mais próximos”, completa Martiniano. Esta também será uma Semana Santa sem procissões. “Não teremos, mesmo, os ritos do Senhor Morto, o Translado do Santíssimo e a Procissão do Encontro”.
Sandra Mara Coimbra, professora de catequese na paróquia Bom Jesus, fala em um “momento delicado”, mas também de “reflexões sobre a vida”. Para ela, a Páscoa serve para fortalecer a fé, mesmo sem participar fisicamente de alguns momentos da liturgia. “Não podemos ir à Igreja, mas somos a Igreja viva. O que podemos fazer lá, fazemos de casa, principalmente o exercício da fé, com amor e união”.
Simone Aparecida Sergio, da Paróquia Divino Pai Eterno, no Parque Piracicaba, revela que é “doloroso” passar a Semana Santa sem ir à Igreja. “Porque é um tempo muito forte, é uma semana em que nossas igrejas ficam cheias de fiéis. Olha, falo por mim, não esta sendo fácil, mas uma coisa linda que vejo diante de tudo isso é o zelo, o amor que os nossos sacerdotes estão tendo para com o povo de Deus em nos transmitir via as redes sociais as missas, querendo estar com o seu povo, dar nos ânimos.”
A quarentena também mudou a rotina religiosa de Glaziele Martiniano Santana, da paróquia uda Vila Rezende. “Mexeu na nossa vida. Estou triste por não participar pessoalmente, mas acompanho as pelo Facebook, pelo Instagram e faço terço junto”. O que ela mais senta falta, revela, é a comunhão ao lado de outros fiéis. “As lives dos padres ajudam muito, dá um conforto, sinto um conforto no meu coração”, ela destaca.
Erick Tedesco